quarta-feira, 11 de junho de 2014
   

O homem que eu era. Que eu nunca mais serei. Que eu sou.



Ela era tão pequena e compacta em minhas mãos, que eu nunca achei que fosse possível, um dia, ser capaz de escorrer por entre meus dedos. Mas escorreu. Ou melhor, escoou, como uma vazamento grave, profundo, sem conserto e, drasticamente, sem reparos. Era começo de verão, garotos costumam gostar dessa época; Nos sentimos mais fortes, imbatíveis, como se nem o céu fosse o limite para nossa liberdade -ainda que figurativa-. Mas não para mim. Pelo menos não naquele verão, onde eu pensei, planejei, e ansiei pelo mais incrível dos acontecimentos. Já namorávamos, então um casamento, por que não? Estava tudo em minha mente. Eu tinha o plano perfeito. Eu tinha o pedido perfeito, o momento perfeito. Estava tudo ao meu favor, o mundo estava, como dizem por aí... Sorrindo para mim. Exceto ela. Enquanto eu ia, ela vinha. Enquanto eu pensava A, ela pensava B, talvez Z. Eu era o quente, ela era o gelado, apesar de se parecer mais com um novelo de lã confortável e delicado, ainda que consistente. Já não devia ser uma grande surpresa quando soube sua resposta. Quando soube sua verdade. Eu sabia, eu deveria saber. E, bem, eu soube. Seu coração nunca fora meu, tampouco seria algum dia. Eu deveria sentir. Eu senti! Da forma mais cruel possível. Uma sensação igualmente parecida com a de um Iceberg perfurando cruelmente e lentamente cada pedaço do meu peito, do meu coração, da minha alma. Atrocidando, devastando, esmagando, acabando. Acabou. Assim como o verão, o outono veio. Veio também a primavera. Veio o inverno. E outro verão. Eu renasci. Amadureci. Eu mudei. Agora, sou como outro cara qualquer. Agora eu sou a juventude do verão; Com o frio congelante do inverno, a despreocupação do outono, e, até mesmo, quem sabe, a renovação, a beleza da primavera. Sou todos os caras que ela sempre quis ter. Sou todos os homens que ela nunca terá.
(Parte 2

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